Se eu me estendesse em tua encosta, se eu me espalmasse,
encontrar-me-ia ciente do instante e ciente de alcançar apenas um estado
infinitesimal, duração verossímil ao afeto de decompor-se e de compor-se
novamente, diante do todo abarcável. Mas
assim preferiria, transfigurar-me sem alvoroço, com o tempo inalienável que se
corta cada vez mais rapidamente, baralhando as imagens numa composição de
relações inquebrantáveis. E não mais forjaria meu destino em segredo. E não
mais levaria uma vida cotidiana. Sussurrando vidas bem tratadas numa teia rala
de encontros. Escondendo apenas parte do bem-querer do vocabulário para se
fazer da treva silêncio e sal. Buscando na linguagem ventosa dos amantes
notícias alvissareiras. E toda a cercania não valeria um pito se o pensamento
em flor não se fizesse em verso. E cada caco recolhido fazendo parte de um
jarro que não se estabelece se não deixar de ter-se como amarras frágeis. Desconhecendo
a construção, levantar alto-mar e encarar o furor natural da ambivalência dos
ânimos, sem a hostilidade das distâncias. Sabendo
certo que eu me demorei em tua encosta, e que eu tenho me demorado.
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