Assalta-me a ideia do faroleiro. Que seria, então? Uma
espécie de mastro num terreno baldio bem distante, dando a esperança do solo
aos viajantes do mar. Resposta-signo à ventania que me lançaste, em certa
época, ao que logo marcou este período. Não há de se culpar as pedras por serem
pedras, há de chutá-las pela estrada afora, dando fim ao desejo motriz de não
ser como elas. A pedra que soltei aos quatro-ventos ainda não caiu ao chão, por
isso impera ainda a brincadeira do ciclope e juntamente a dos lábios que não se
encontram. Deram-me, em outras épocas, palavras marcadas, que logo cravei ao
peito. Delas não me desfaço, mesmo que me saltem à vista tantas outras. Com
elas, não devo errar o caminho. Porque as tenho, inquebrantáveis, faço do fundo
baú um depositório de objetos cintilantes, cuja luz é extensão sem tempo nem
espaço.
Não encontrei as facas da vida, sobre as quais dança quem ama, nem me cravei numa cruz, sacrifício pelo qual faria Hölderlin em sua busca pela ‘exatidão da palavra’, embora em certo momento vislumbrasse tais necessidades. A clarividência comum é tamanha, que por um momento, me proponho um breviário de obviedades. À simplicidade de uma frase, até mesmo quando tão-somente não bastava sua raiz sobreposta, se deve sempre recorrer humildemente. Da simplicidade à síntese, vice-versa.
Se de um conto sobre um faroleiro a um versado em Moby Dick vou, isso eu não entendo, mas posso inteirar-me. Duas histórias distintas podem muito bem se acrescerem. E de uma Lucía a outra Lucía, podemos ao fim conhecer apenas uma. Como ela se faz nos ciclopes da memória, tanto faz. Lucía está em Moby Dick, e a colheita de ambos, em mim.
Este é, pois, meu caos portátil. Podemos agora fumar nosso
cachimbo da paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário