sábado, 18 de maio de 2013

Sem fazer da mosca um elefante*


Folhas, folhas, folhas, ao rés do chão no quintal do homem cortês, moscas, letrinhas de moscas, antigas moscas a zumbir as aparências? Voltaria àquela tarde de ventania num estalar por uma simples lembrança. Tardes, todas as tardes poderiam ser regadas por algum licor doce, em dose pequena, um espreguiçar em cadeiras de madeira de uma alegria breve e uma companhia desinteressada de nossos rumores. Gostava-se de registrar os sinais da juventude: bastaria ali se estar para que todo o arredor encontrasse sua própria graça. Não se sabia das sombras. Se lá assinalavam folhas, era pelo sentido de nelas se desenhar formas, que em todos os outros instantes nos eram incognoscíveis. Percebia eu, percebia ele, que aquele era apenas o iniciar de nossa vida adulta, e que nos preparávamos em direção a uma sucessão de esperançosos encontros - daquele momento em diante, crendo ser o melhor modo de conduzir-nos; o melhor modo de dignificar conjuntamente os palatos, o espírito e o intelecto? [Tardes de presença consagrada, profusão de transformações...]


* dito provérbio, encontrado em a "Mosca" de Luciano de Samósata, e traduzido pelo querido amigo Guichérmo.