domingo, 6 de abril de 2014

Compartimento para os olhos (ou repouso para os olhos)

Haveríamos de beirar a linha tênue da distinção de seu olhar: um deles me vem imediatamente à mente, incorrigível, já outro o tenho retido, intercambiando em percepções que tento hoje solucioná-las. Os olhos que se abrem à porta de todos os olhos, os meus: o que não me vem à recordação dos seus, mas que também está aí latente no trombar e mesmo no desvio, ou o que não se pode vasculhar amiúde, mas que se intui sem julgamentos, no que transborda em um desviar de si próprio: o olhar com fulgor. Não posso dizer que o olhar que não tenho certo à mente seja o seu contrário, o olhar da opacidade... os seus, mas como seriam decifrá-los, retê-los e depois encontrar a sua ressonância? Tenho a imagem certa a que recorro, perdendo-me, é certo, no emaranhado da memória, num piscar: seriam de dura opala...? Componho a imagem, e na passagem de um instante a outro, vejo-o e não me vês. A voz que se faz aqui é outra, a que não deste por conta.

Tentando reter o inexprimível


Entendendo o que é o limite, até onde irias? Ao limite dinâmico dos corpos ou ao contorno das esferas dos corpos? Entendendo o que é o limite, isto é, o limite da ação e da potência de um corpo, poder-se-ia resgatar o timbre de sua ação ou de sua potência. Mas como seria isso, como seria estender a voz até o ponto-limite em que a corda não se parte, resgatando do íntimo o trajeto ressonante? Vociferando, poderia interpretar alguém, dando corpo ao que se segue à extensão, cortando salões aéreos e cavalgando em campos abertos à fuga. Em algum momento, haveria de ser preciso abrandar essa voz, para que na escrita, este moldável escopo, pudesse encontrar a sua outra voz, a da consciência exposta num labor de arquiteto, sendo esta, também, a mais domável? Mas haveria de ter menos liberdade aquele que segue ao fluxo de sua outra voz? Decerto não teria, quando o que só cabe encontrar é a essa voz, a sua outra voz. Abrandá-la seria mais como dar-lhe alimento e lar, e obviamente não impedindo a sua passagem a outros campos. Vociferar seria a linguagem nela mesma, em seu estado mais bruto. O limite da ostra que quer se revelar estaria na orla de uma floresta, no centro determinante de uma passagem a outra passagem, onde desconhecemos a barreira delimitadora que, se não houver engano e ilusões, poder-se-ia enfim dizer: foi aqui o meu começo, e é aqui onde termino. Equiparar-se-á a isso uma fronteira, o muro dos exilados de guerra, a parede que remete às distâncias de um a outro. A mim, equiparo a uma linha evanescente no entorno de meu corpo, que me manda boas notícias ao dizer-me que é aqui e no preciso instante em que começo e recomeço, no sem-fim de árvores que se vão erguendo desde a sua orla até a sua encosta, como na antiga promessa de guardar-se a um amante.