Como todo deus limitado, que não pretende dissipar as nuvens
nem sujeitar o modo de pensamento humano ao jugo do seu próprio, encontra-se
ele a lacrar suas pequenas caixas no recanto de seu lar. Por muito tempo não se
disporá a abri-las novamente, esta sendo sua decisão tácita. O que lá haveria
que agora se impõe a ocultar-se no vocabulário? Não que se dissolva pela realidade,
não, porque pode ser sim encontrado no âmbito do mundo, o que lá há se sabe ao
certo que se perde no âmbito do mundo comum e visível, assim como tendem a
fazer todo conteúdo das pequenas caixas que se encontram ao fim do armário de
um lar: dessa perdição por corpóreos adentro, ele sabe, é pelo que não quer se
dar conta mais. Que seja brutal o que lhe é exterior, a isso está acostumado,
tanto que não raro seus olhos estão vermelhos e seu coração palpita
dilaceradamente quando algo como uma mistura de vontade, recepção do ímpeto e
cansaço lhe torna a si mesmo como ponto de chegada marcado com um traço de
corrida esportiva. Pequenas caixas amontoaram-se, chegando o tempo de
reavê-las, mas foram vistas maiores em cada recordação, mais dissemelhantes à
deformação do tempo, ou mais verdadeiras ao defronto com o tempo? Com esta
indagação, intuindo todas as três direções de uma resposta mais convincente,
resolveu assim calar a gruta de sua narrativa passada. Para trás gostaria de
não olhar novamente, e soube no instante que uma criança gritou por trás de
seus ouvidos que o ponto de chegada era exatamente no ponto por onde ele ali
passava. “Se alguém devo eu escutar,
decerto seria uma criança. A que direção devo eu tomar, se o fim de meus passos
viu o seu apaziguamento num encontro de direções?”. Para recomeçar a
trajetória das horas, preferiu apenas escutar uma música mediúnica e finalmente
descansar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário