sábado, 2 de maio de 2015

O tempo das margaridas despedaçadas

A cada margarida despedaçada, em busca de uma resposta para o bem-me-quer ou mal-me-quer, iam-se caindo as pétalas ao chão junto com a pergunta... Cada pétala contada, um destrato com a flor. Cada queda da pétada ao chão, um fechar de olhos a petrificar o seu peito. Ao ponto em que as pétalas transformavam-se em números de segundos incontáveis, e as flores, números de horas desperdiçadas. Qual seria, então, o sentido da pétala e da flor enquanto números?

Perguntando-se naquele dia, por quê o apresso por uma outra flor guardada e mucha dentro de um livro empoeirento na estante ao meio de tantos outros livros? Por quê, então, não havia mais cuidado de seu campo vasto afim de receber a gratidão das flores? Por quê o apresso pelos seus mortos em queda e nunca a resposta desejada? E a resposta, pois não seria tão somente a realização de uma afirmação ou de uma negação? Por quê tanta dificuldade em proferi-la? Bem-te-quis, Mal-te-quis... E libertaria assim todas as margaridas despedaçadas... Mas mais simplório foi afastar-se diante de tudo, do tempo que transcorria levando o seu sentido de querer, para ter como resposta a superfície de uma margarida costurada, quando já não era quase que por completo inócua, sem centro.

O preço que pagou por um beijo de lágrimas se encerrou no tempo inoportuno, até que ele mesmo não consiguia mais obter de seu alimento vital. Deixando de lado, mais uma vez, as pétalas costuradas. Por quê não foi até elas, logo depois de alguma tomada de consciência, não para reparar os emendos, mas para sanar o seu centro? O centro sanado, que seria a gota de sal tocando a pele delicada, como na primeira infância. Foi assim, então, que tomou do conhecimento da queda das pétalas, depois de sua própria queda, com o tempo tomado sem raparos, e de lá não mais saiu. Continuando a não se desvencilhar de seu livro, daquele livro tão cheio de significados, como forma única a resguardar o que foi perdido e que já não se acharia mais. Suco ingrato, sumo ingrato, iludido nas perdas e nos ganhos de suas guerras particulares. Suco derramado, sumo derramado, para virar pó e cinza junto à terra, e sem sabermos do seu fim acalentador sobre a terra, iludirmo-nos por mais uma aventura pelos céus.


O único resguardo de flor dentro de um livro como resultado de sua prisão mesquinha, pois trabalhar sobre o solo, fazer vingar o pé de flor, qualquer que fosse - afinal não importa qual flor seja, enquanto ela por si só seja flor -, teria que vir unicamente pela perfeição inalcançável e almejada, no momento de sua iniciação ao Amor. Iniciação que, desencontrada na perda de sentido do querer, hoje é só cinza e nó, e ainda assim, a desejar o Impossível. O impossível de suas perguntas sem respostas e o impedimento de proferi-las às perguntas das margaridas.


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