Quisera nos erguer sobre raízes de uma árvore secular para
nos dar sustento diante da bravata do cotidiano eriçado. Quisera nos fazer de
mastros, cada qual em sua ilha, para lançar luz sobre os mares que nos dividem
a direção futura. Quisera ser a ponte e o caminho entre minha veia e a sua veia,
no percorrer combustivo de tudo que se constitui em nós. Quisera num jato de
criação soltarmos todas nossas fendas e depois reluzirmos em sete mil cores, despendidas
entre o sentir e o chorar. Quisera derramar-me e expandir-me na cal de terra
desse encontro, deixando fluir livremente o presente, regozijado com toda
franqueza. Quisera refazer-te em palavras, deter-me em ti por um instante, para
pôr fel em teus lábios que me lêem e para preservar o invólucro de luz lunar em
teu olhar. Quisera perder-me e reencontrar-me em ti, como única cumeeira a se
retornar. Quisera na multidão em alvoroço um olhar-nos correspondido, dando a
serenidade de nossa apátrida do mundo. Quisera a camada e a última demão de
tinta azul sobre nosso corpo, para alcançar o céu pela pele. Quisera o destino
sorrindo-nos de travessuras úmidas. Quisera o vão do labirinto de teu peito
alcançando o meu vão de labirinto. E no toque mediúnico desta pele, recontando
e sussurrando em mantra sobre todas as noites e todas as canções de amor sem
fim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário