segunda-feira, 29 de abril de 2013

Poema de Samuel Beckett

CASCANDO
(Samuel Beckett)
Trad. de Raul Macedo

1
por que não simplesmente não esperar
a ser a ocasião
de um despojar-se de palavras

não é melhor abortar que ser estéril?

depois da sua partida as horas são tão tristes
sempre começarão a se arrastar demasiado breves
os garfos cegamente agarrando o leito da miséria
resgatando os ossos os amores antigos
as órbitas preenchidas por olhos como os seus
é melhor sempre breve do que jamais?
negra necessidade salpicando os rostos
dizendo uma vez mais nunca flutuou nove dias o amado
nem nove meses
nem nove vidas

2
dizendo uma vez mais
se você não me ensinar eu jamais aprenderei
dizendo uma vez mais existe um último
tardar de vezes últimas
vezes últimas de mendigar
vezes últimas de amar
de saber não saber simular
um último tardar de últimas vezes de dizer
se você não me amar jamais serei amado
se eu não lhe amar eu jamais amarei
um bater de palavras gastas uma vez mais no coração
amor amor amor golpe de uma bomba antiga
moendo o soro inalterável
das palavras
uma vez mais aterrado
de não amar
de amar e não a você
de ser amado e não por você
de saber não saber simular
simular
eu e todos os que lhe amarão
se lhe amarem

3
a menos que lhe amem

CASCANDO
(Samuel Beckett)

1
why not merely the despaired of
occasion of
wordshed
is it not better abort than be barren?

the hours after you are gone are so leaden
they will always start dragging too soon
the grapples clawing blindly the bed of want
bringing up the bones the old loves
sockets filled once with eyes like yours
all always is it better too soon than never
the black want splashing their faces
saying again nine days never floated the loved
nor nine months
nor nine lives

2
saying again
if you do not teach me I shall not learn
saying again there is a last
even of last times
last times of begging
last times of loving
of knowing not knowing pretending
a last even of last times of saying
if you do not love me I shall not be loved
if I do not love you I shall not love
the churn of stale words in the heart again
love love love thud of the old plunger
pestling the unalterable
whey of words
terrified again
of not loving
of loving and not you
of being loved and not by you
of knowing not knowing pretending
pretending
I and all the others that will love you
if they love you

3
unless they love you

2 comentários:

Adriano Godoy disse...

pesado

matheus de brito disse...

achei essa por aqui

cascando
1

por que não apenas o quê desesperado da
ocasião para
esta verborragia

e não seja abortar melhor que ser estéril ?

as horas após ti são chumbo
cedo demais vão começar a arrastar-se
cegos ganchos agarrando o leito da vontade
desenterrando a caveira dos amores velhos
covas uma vez preenchidas de olhos como os teus
tudo sempre é melhor antes cedo do que nunca
negro querer rebentando em suas faces
dizendo outra vez sete dias nunca suspenderam o amado
nem sete anos
nem sete vidas

2

outra vez
se não me ensinares não aprenderei
outra vez há uma última
mesmo última vez
última vez de rogar
última vez de amar
de saber não se saber fingindo
uma última até de uma vez de dizer
se não me amas não serei amado
se não te amo não amarei

o tumulto de palavras gastas outra vez no peito
amor amor amor o baque de um pilão
socando o inalterável
soro de palavras

outra vez o terror
de não amar
de amar e não a ti
de ser amado e não por ti
de saber não se saber fingindo
fingindo

eu e todos os outros que te amarão
se te amarem

3

a menos que te amem